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          Diego Farias, de 26 anos, é funcionário público, estudante de Engenharia de Produção e mora com os pais e os irmãos em um bairro de baixa renda no município de Nova Iguaçu. Desde 2016, estuda no Centro Universitário Geraldo Di Biase (UGB), curso que decidiu fazer, porque já trabalhou em uma empresa que produzia e distribuía produtos de limpeza para todo o país. Com essa experiência, se identificou com os processos e viu que isso poderia ser uma opção de carreira. O salário que os engenheiros de produção ganhavam eram muito interessantes e somando-se a isso, está o fato de que a engenharia tem uma vasta área de atuação.

          Assim como milhares de brasileiros, a origem dele é de uma região humilde, que tem o saneamento básico deficitário em algumas ruas e também é possível encontrar ruas não asfaltadas. Mesmo afirmando para o mundo que somos um país miscigenado, temos em nossa sociedade o preconceito racial mascarado, ou seja, todos sabem que existe, mas o assunto não é amplamente comentado e discutido. Diego, como milhares de pessoas em nosso país, já sofreu preconceito por conta da cor da pele dele.

           É muito difícil encontrar hoje, no Brasil, um negro que não sofreu ou sofre preconceito. O primeiro contato de Diego com o preconceito racial aconteceu na escola primária. As palavras e atitudes cruéis partiam de alguns colegas de turma.

          - A minha reação na época era de constrangimento por não entender o significado dessas atitudes, mas depois eu comecei a me defender e levar as situações para os professores, supervisores e direção da escola. Os meus pais sempre trataram os filhos com igualdade, respeito e amor e ensinaram também que temos direitos e deveres na sociedade, que todos os atos do ser humano geram consequências boas e ruins. É dessa forma que eu lido com o preconceito.

          No atual emprego - uma companhia estatal na capital fluminense - até então, ele não enfrentou preconceito por ser negro. Em outras empresas ou à procura de trabalho ou estágio ele também nunca sofreu preconceito.

          - Eu tenho sempre enfrentado com otimismo, sabendo que tudo tem seu tempo determinado e que dias melhores virão. Para isso, eu tenho que ir atrás do que eu quero, porque a vida é difícil, mas com fé e determinação, a gente chega onde quer.

          Dois casos que o marcaram com relação a atitudes cotidianas ofensivas, foram ambos ocorridas com colegas. Um foi com um amigo que tem um bom nível de cultura, formação e educação. Esse amigo, ao atender uma pessoa, a tratou com muito respeito e educação. Após o atendimento, a pessoa agradeceu e disse que nunca tinha sido tão bem atendida por um negro. O outro caso também foi com um amigo. Ele foi questionado por um indivíduo acerca de qual ritmo musical gostava. O amigo respondeu que gostava de jazz. Logo em seguida, a pessoa deu uma gargalhada e disse que, no Brasil, era impossível um negro gostar de jazz.

          Diego afirma que hoje o sentimento dele é de indignação e, ao mesmo tempo, de tristeza com relação ao racismo no nosso país. É difícil entender como uma nação que, em sua maioria, tem a pele negra ou parda, tem níveis tão altos de preconceito racial, inclusive, com pessoas negras que tem preconceito com a própria cor.

Existem organizações que auxiliam as vítimas de preconceito, empoderando-as e levando esclarecimento e visibilidade da situação a sociedade como um todo. O jovem estudante de engenharia não participa de nenhum movimento de combate ao racismo, mas tem amigos que participam.

 

          - É importante que existam esses tipos de ação, desde que a motivação seja a igualdade. Porém, como todo movimento tem seus extremos, alguns querem sobrepor a cultura negra sobre as outras, e isso não é certo.

Ele orientaria uma pessoa que está passando por questões de preconceito racial a manter a autoestima e se achar necessário, recorrer às vias legais. Porque racismo, além de ignorância, é crime.

Para lidar com o preconceito

Laura Medeiros
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