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          O estudante de design e de língua japonesa André Aphonso, de 23 anos, estava no colégio quando se viu interessado por um colega de turma. Confiante, foi tentar a sorte com ele e perguntar se o achava bonito. “Se você fosse branco, você seria”, ouviu de resposta. Essa é uma das mais fortes lembranças de preconceito que o manauara sentiu.

 

          Como parte de sua família é portuguesa, o jovem conta que algumas pessoas têm dificuldade em o aceitar como negro, e o classificam como moreno, pardo, ou até cor de jambo. Ele diz que isso já fez confusão em sua cabeça, e depois de muito estudar, sabe que isso não é verdade. No ensino fundamental, adolescentes que resistiam a aceita-lo negro diziam que André era mais para árabe, e faziam piadas de que ia ter explosão na escola.

          “Eu sou miscigenado, mas meus traços são de negros. Me chamar de cor de jambo é nojento, isso é como me tornar um objeto sexual. Dizer que eu ia cometer uma explosão me deixava muito chateado”, conclui. 

Por mais que alguns resistam em o aceitar como negro, as situações que Andre passa no dia a dia mostram o contrário. Em uma noite no centro de Manaus, caminhava na rua quando uma mulher vinha correndo de outro lugar. Ao notar o desespero dela, sua primeira reação foi de querer ajudar. Para se aproximar, sorriu para ela, quando no mesmo instante, a desconhecida olhou para ele e saiu correndo na direção oposta, mais desesperada do que já estava. Também perto de sua casa, ao passear com sua cachorrinha, policiais militares pararam o estudante para uma revista inesperada.

          “Isso é o que mais me incomoda, é comum de acontecer. Negro tem que andar bem vestido. Depois de me revistar inteiro, o policial virou rindo para mim e disse para ficar tranquilo que era ‘só um procedimento de rotina’, e eu perguntei se ele não revistaria minha cachorra também, já que ela é preta. Ele só riu”, explica.

Além de tudo que sente por ser negro, Andre também é vítima de homofobia. Com seus pais separados, o jovem conta que sua mãe se culpa de ter feito algo de errado durante sua criação, e seu pai reluta a aceitar a homossexualidade.

         

          “Meu pai disse que, por ser gay, eu teria que trabalhar o dobro. Eu não tenho que trabalhar o dobro não, eu tenho que trabalhar o quádruplo!”, afirma. As baladas gays de sua cidade são tomadas por garotos brancos e sarados, os chamados na internet de “padrãozinho”. Para o jovem, esse é mais um momento em que o racismo aparece, já que não se sente identificado ali.

          “Tenho 1,93 de altura. Já escutei muito que é um desperdício um “morenão’ desses ser gay. Já tive muita dificuldade de me relacionar. Muitos caras só queriam curtição e nada sério comigo, e na semana seguinte apareciam namorando com um branco. Isso me machucava muito. Hoje, meu namorado gosta de mim por todo o jeito que eu sou”, conclui.

Eu tenho que trabalhar o quádruplo!

Renato Lavogade

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