Porta de Vidro
A rotina de um negro na América do Sul
Negro, da periferia e homossexual. Na sociedade atual, essas três características são a receita para o preconceito e intolerância. E esses são dois dos sentimentos que Marcos Furtado, de 25 anos, sente todo dia na pele durante sua rotina cansativa e guerreira. Marcos é estudante de jornalismo e está no quinto período da faculdade. Ele estuda no IBMEC, na Barra da Tijuca, com bolsa social, contudo, hoje em dia, está com a faculdade trancada pois está cursando um período dos estudos na Espanha, na Universidad de Navarra, após ganhar o concurso Jovem Jornalista Santander do jornal Estado de São Paulo.
O estudante vem de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e seus sonhos são muito grandes para o humilde bairro da periferia guanabara. Lá, a maioria de seus vizinhos são negros, enquanto a maioria dos seus colegas da universidade particular que estuda são brancos. Todo dia demora cerca de três horas para chegar na Zona Sul carioca, pegando dois diferentes ônibus e trem hiper lotado.
Para ganhar o concurso Jovem Jornalista, Marcos se debruçou sobre o tema de sua reportagem vencedora, que falou sobrea recente instalação da tecnologia na Cidade de Deus e o quanto isso era importante para a comunidade. Desde sempre, Marcos aposta na inclusão digital e social como ferramentas para uma sociedade mais justa e igualitária. Considerando-se uma "exceção à regra", o jovem estudante jornalista conta que um dos maiores vilões para a desigualdade racial é a meritocracia:
- O mito de que todos que se esforçam têm a mesma oportunidade precisa ser quebrado. Porque não é verdade. Uma pessoa negra, da periferia, precisa se esforçar 10 vezes mais do que uma pessoa que mora na Zona Sul e é branca. O nível de esforço que cada um tem que por no seu trabalho é muito diferente. E as pessoas privilegiadas costumam usar isso como argumento para se cegar quanto ao racismo e preconceito existente na nossa sociedade - explicou Marcos.
Para Marcos, a experiência do intercâmbio tem sido muito rica e ele reconhece que se não fosse a sorte, o impulso de certas pessoas da sua vida e uma rotina corrida, com uma dose extra de esforço para alcançar seus objetivos, ele jamais estaria ali. Ele acrescenta que se não fosse por esses fatores, estaria como a maioria de seus amigos negros: vivendo sem oportunidade.
De Belford Roxo a Navarra
Giuliana James